Li certa vez que Autismo não é uma doença. É uma condição vitalícia.
Acredito que nós, neurotípicos, temos muito a aprender e entender sobre a mente autista e, principalmente, em como podemos melhor atendê-los com amor e dignidade, ajudando-os a desenvolverem seus potenciais que muitas vezes são negligenciados e não estimulados.
"Eu vejo 'autista' como uma palavra para uma parte de como meu cérebro funciona, não para um conjunto estreito de comportamentos e, certamente, não como um conjunto de limites de um estereótipo que eu tenho que ficar dentro." – Amanda Baggs
Amanda Baggs, ativista autista, busca traduzir sua linguagem autista para a nossa e o faz com grande destreza. Para ela, seus movimentos aparentemente estranhos e estereotipados constituem uma linguagem e uma forma sofisticada de interação com o mundo material.
E ela não está errada, existem diversas formas de interagirmos com o mundo... uma palavra, um gesto, um olhar, um desenho... enfim, são infinitas as possibilidades
Vale lembrar, no entanto, que não há apenas um tipo de autismo, mas muitos.
Como o autismo é um transtorno do espectro, cada pessoa tem um conjunto distinto de pontos fortes e de desafios, assim como todos nós na verdade.
As maneiras pelas quais as pessoas com autismo aprendem, pensam e resolvem problemas podem variar de altamente funcional a severamente desafiadores.
Algumas pessoas com TEA podem exigir apoio significativo em suas vidas diárias, enquanto outras podem precisar de menos apoio e, em alguns casos, vivem totalmente independentes.
Essas são as nuances. Alguém diagnosticado com autismo leve não terá o mesmo grau de comprometimento de um autista mais severo.
No entanto, o preconceito e o estigma é o mesmo. Comportamentos diferentes são vistos como falta de educação, e os pais, muitas vezes, são julgados por não saberem educar o filho ou por mimá-los demais quando os deixam escolher a própria roupa, pois a costura ou o tecido das demais os incomodam.
Julie Hornok, autora do livro United in Autism, Finding Strength Inside the Spectrum, aconselha: "ame seu filho exatamente como ele é. Muitas vezes achamos que precisamos 'consertar' nossos filhos autistas, mas na verdade precisamos aprender como suas mentes funcionam e usar seus pontos fortes para ajudá-los a se tornarem a melhor versão de si mesmos”.
Talvez aí esteja a dificuldade dos pais em lidarem com seus filhos e, também da sociedade em acolhê-los e integrá-los.
Nossa zona de conforto nos impede. Estamos tão acostumados à nossa forma de enxergar o mundo que não percebemos que existem outras formas de experimentá-lo em sua plenitude.
Quando uma família se concentra na capacidade em vez da incapacidade, tudo é possível... Amor e aceitação são fundamentais. Precisamos interagir com eles, se interessar por seus interesses e logo perceberemos a riqueza da experiência de experimentar uma nova perspectiva de vida, uma nova forma de sentir e viver.
Uma das frases mais impactantes que ouvi de um paciente autista foi, “você entendeu como é ser eu”. E isso é tão lindo, pois ele sentiu-se incluído, compreendido e amado.
O esteriótipo da criança sentada imóvel em frente a uma parede, ou girando uma bola dia após dia precisa ser quebrado.
E como fazemos isso?
A conscientização e aceitação do autismo pode partir da ampliação da exposição das pessoas neurotípicas à vida das pessoas autistas. Não são estatísticas ou listas de comportamentos específicos, são histórias, são vidas, que devem ser contadas e enaltecidas.
Atualmente a visão médica mostra que muitas pessoas diagnosticadas no espectro têm uma vida normal, mesmo que com algum nível de prejuízo em certos fatores da vida, como comunicação e sociabilidade.
Se você é pai e/ou mãe de uma criança do espectro autista, não se esconda, pelo contrário, saia da zona de conforto, enalteça suas qualidades, estimule seu filho a experimentar coisas novas, com amor e paciência ele enfrentará as próprias limitações com muito mais entusiasmo e disposição.
A frase de Stephen Shore, um dos diretores da organização Autism Speaks, nos faz refletir a respeito. Ele diz: “Se você conheceu uma pessoa com autismo, você conheceu uma pessoa com autismo”. Simples assim! Você conheceu uma pessoa, única em suas peculiaridades, e não um diagnóstico ou um problema a se resolver.
Janaina de Abreu Gaspar
Psicóloga Clínica
CRP 06/78629
www.terapianapaulista.com
@terapianapaulista
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