A maioria dos pais merecem uma medalha de honra, mas há aqueles que estão em um outro patamar. Refiro-me aos extraordinários, encarregados da preciosa tarefa de criar e educar crianças com necessidades especiais.
Eu tenho feito a recepção e o primeiro contato das mães que se cadastram no Instituto AME – Instituto de apoio a Mães de Especiais, e as histórias que eu encontro diariamente me surpreendem e me inspiram. Muitas, mal tem um momento para si mesmas em função do somatório de cuidados que estes filhos demandam, outras, trabalham incansavelmente para sustentar a família, mas a disposição delas é sempre otimista e cheia de amor.
Sou abençoada por conhecer cada uma dessas histórias e, refletindo, identifiquei algumas lições de vida que aprendo com elas.
1. Gratidão
Sempre temos o que agradecer. Certa vez, a mãe de um rapaz com Paralisia Cerebral Severa chorou no final da nossa conversa por ter sido ouvida. Segundo ela, em 23 anos (idade do filho), nunca ninguém parou para ouvi-la, e eu só tinha oferecido 15 minutos do meu dia. Em outra ocasião, uma das mães não conseguia entender como ofereceríamos terapia de forma gratuita e chorou emocionada e agradecida pela oportunidade. Teve também o dia em que presenciei o evento do Dia da Mulher e pude ver em suas faces a gratidão por aquele momento só delas, algo raro na vida dessas mulheres. E se você acha que elas reclamam, está enganado(a). Se cansam, mas não desistem e agradecem cada conquista e cada oportunidade.
2. Paciência
Penso que, as coisas que testam minha paciência ou são difíceis de lidar seriam abordadas por elas de maneira muito mais amorosa. O que me irritaria seria tratado com calma e até mesmo com um senso de positividade.
Me surpreendo com as histórias que ouço e tento melhorar minha própria forma de lidar com as adversidades.
3. Um equilíbrio de humildade e força
Força e determinação perseverantes. A gentileza e o sorriso suave não transparecem o espírito inquebrável e a vontade sem fim dessas mulheres. Nenhuma delas deixaria pedra sobre pedra para ajudar e proteger seus filhos. Se isso significa lutar com o convênio com persistência sem fim para que o tratamento de seu filho seja realizado, é o que elas fazem. Percorrem horas de transporte público para que frequentem a melhor escola. Mudam de cidade para ficarem mais próximas do tratamento, mesmo que signifique morar em uma casa sem móveis. Se isso significa não sair de casa, pois seu filho entra em desespero sem sua presença, então é isso que uma das mães relatou que faz.
A devoção delas é total, sob medida para sua família e o compromisso com a qualidade de vida de seus filhos é em tempo integral.
4. Crença ilimitada em seus filhos
Ouvir de alguém que seu filho não terá um futuro, que não tem capacidade de aprender ou até mesmo de viver em sociedade é muito comum entre elas. Elas correm para consultas e terapias para ajudá-los a florescer. E fazem tudo com alegria e otimismo. A maneira como falam sobre seus filhos, é cheia de admiração. Elas encorajam, acreditam no potencial deles e os desafiam a conseguir sempre mais. Ontem mesmo uma mãe me questionou se estava fazendo o certo. Sua filha que está no Espectro Autista é tratada como qualquer outra criança. Essa mãe é criticada pelos familiares, mas para ela, sua filha pode tudo e nas palavras dessa doce mãe “estou criando minha filha independente, pois sou só eu e ela e um dia não estarei mais aqui”. Para ela, a professora não utiliza todo o potencial de sua filha e como não tem condição de colocar em uma escola melhor, essa mãe faz em sua própria casa a complementação dos estudos da menina.
5. Resiliência
O que enfrentam, muitas vezes, parece não haver solução. Mas elas não desistem, dão um jeito, passam por cima do que for. Dia após dia, desafios são postos à frente, mas nada as impede. Aprendem com os erros, superam, e tentam fazer melhor em uma próxima vez. Se adaptam, aprendem libras, mudam de casa, trocam fraldas e sondas, pesquisam e se informam sobre tratamentos para seus filhos.
6. Estendendo a mão para os outros
Mesmo enfrentando os desafios esmagadores de criar uma criança com necessidades especiais, a consideração e sensibilidade com os outros não diminui. Seja com uma palavra encorajadora ou um ato de bondade, elas nos conectam a outras famílias de crianças especiais que estão se beneficiando dos projetos do IAME. Elas poderiam mergulhar em suas próprias preocupações, mas em vez disso estendem a mão para os outros com amor.
Elas sorriem, são otimistas, são flexíveis. São leoas.
E eu, sigo aprendendo...
Janaina de Abreu Gaspar
Psicóloga Clínica
CRP 06/78629
@terapianapaulista
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